Crítica | O Retorno de Mary Poppins


Sequência do clássico musical de 1964 é “supercalifragilisticexpialidoce"!

Em 1964, a escritora P.L. Travers chorava de tristeza ao assistir a primeira adaptação de sua obra para o cinema. Depois de anos de insistência, Walt Disney finalmente havia conseguido levar às telonas uma das histórias de Mary Poppins, babá quase perfeita em todos os sentidos criada por Travers. Acontece que a escritora australiana não gostou nada de ver seus adorados personagens cantando, dançando e interagindo com cenários animados numa das mais perfeitas “disneyficações musicais” de todos os tempos. A história da insistência de Disney para conseguir adaptar a obra de Travers, bem como o desgosto da escritora depois de ver o filme, foi contada em 2013, no filme “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, com Tom Hanks e Emma Thompson nos papéis principais.
Travers não aprovava o sentimentalismo dos filmes Disney, mas o público adorava. Tanto que, durante 20 anos, “Mary Poppins” deteve o título de maior bilheteria do estúdio. E não foi só isso. O longa é, até hoje, um dos mais premiados da casa de Mickey Mouse. Só na edição do Oscar de 1965, foram 13 indicações (incluindo para Melhor Filme), dentre as quais, venceu em cinco categorias: Melhor Atriz (Julie Andrews), Melhores Efeitos Especiais, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original (Chim Chim Chr-ee).

54 anos depois, a babá quase perfeita em todos os sentidos Mary Poppins está de volta, desta vez, interpretada pela excelente Emily Blunt.
54 anos depois, chega aos cinemas “O RETORNO DE MARY POPPINS”, dirigido por Rob Marshall. Apesar do tempo que separa os dois filmes, a babá mais querida do cinema continua encantadora e pousa nos nossos corações e os enche de alegria e esperança, como se fosse a primeira vez. Agora, Mary é interpretada pela excelente Emily Blunt, que entrega uma babá maravilhosamente doce, porém metódica, que lembra e muito a versão de Julie Andrews no filme de 1964.


A missão de Mary, nesta nova história, é, mais uma vez, cuidar das crianças dos Banks. E, embora os irmãos Michael (Ben Wishaw) e Jane Banks (Emily Mortimer) tenham crescido e assumido as responsabilidades da vida adulta, precisam mais do que nunca da ajuda da mesma babá mágica que cuidou deles enquanto crianças. Michael é um artista sem o devido reconhecimento que acabou de perder a esposa e tem três filhos para cuidar. Ele e suas crianças (que são o pretexto para a vinda de Mary – não que elas também não precisassem de seus ensinamentos valiosos) moram na mesma casa que ele e sua irmã moravam quando Mary os visitou pela primeira vez. Jane, assim como sua mãe, luta pelas causas dos fracos e oprimidos. Enquanto a senhora Banks, no primeiro filme, lutava pelos direitos políticos das mulheres, Jane, mulher independente que vive sozinha, luta pelos direitos dos trabalhadores explorados.
Para Michael, como se não bastasse sua triste perda recente e o fato de precisar se desdobrar de várias maneiras possíveis para conseguir dar conta de seu emprego no banco, dos filhos e de todo resto que dividia com sua esposa, está prestes a perder sua velha casa, e tudo isso em meio à Grande Depressão. Por isso, todos aos seus postos! É hora de todos ajudarem a salvar a antiga residência da rua das Cerejeiras. E, como não poderia deixar de ser, uma das pessoas que ajudam nessa saga é Mary.

Jane (Emily Mortimer) e Michael (Ben Wishaw) já são adultos, na sequência do clássico de 1964, mas ainda precisam da ajuda da babá.
Ao contrário do primeiro filme, onde Bert (Dick Van Dyke), amigo de longa data da babá e um dos personagens mais queridos dos fãs, acompanhava Mary e as crianças em suas aventuras fantásticas e na evolução da relação destas com seus pais, Jack (Lin-Manuel Miranda) é quem acompanha Mary e os filhos de Michael nesta sequência. Aliás, as atuações de Miranda e de Emily Blunt são encantadora e, até mesmo, surpreendentemente fantásticas, o que justifica as indicações que os dois já colecionam por seus respectivos papéis para a próxima temporada de premiações.
Mas, mesmo sem Bert, Dyke faz uma breve, porém memorável aparição, com direito a sapateado (aos 93 anos!) e até uma piada (que ouso dizer ser a melhor do filme) que só quem viu o primeiro longa é que vai entender.
Julie Andrews chegou a ser convidada por Marshall, para fazer uma participação no longa, mas, segundo ele, a atriz disse que esse era o “momento de Emily brilhar” e que ela deveria “comandar o show”. Mas, devo admitir que, apesar de já saber que Julie não apareceria nem para dizer um “olá!” ou, quem sabe, um “supercalifragilisticexpialidoce”, foi difícil não deixar de procurá-la em cada cena (e eu não sou o único). No entanto, apesar de sua ausência, Emily soube, de fato, brilhar e conduzir um show tão maravilhoso quanto foi o apresentado por Julie em 1964.

A participação de Dick Van Dyke é um dos grandes momentos do filme.
Ponto alto no primeiro filme, os efeitos especiais desta sequência são encantadoramente mágicos. A interação entre atores e personagens e cenários de animação – tanto em CGI, quanto tradicional –, dá o ar de fantasia doce, inocente e nostálgica que os fãs de Mary deviam esperar (eu mesmo me senti criança novamente e pude me ver assistindo o longa de 1964 em VHS pela primeira vez). Além dos efeitos (claro, porque são muitos os pontos fortes deste filme), os figurinos e a direção de arte são tão mágicos quanto. Em uma das cenas em que Mary, Jack, e as crianças Annabel (Pixie Davies), John (Nathanael Saleh) e Georgie Banks (Joel Dawson) interagem com animações, é deslumbrante a forma como as roupas e os objetos de cena se mesclam com os traços dos desenhos.


Por outro lado, algo que incitava muita preocupação nos fãs do primeiro filme (inclusive em mim) era a trilha sonora. Porém, sinto alívio em dizer que as canções são lindas e memoráveis, e até seguem a mesma lógica da trilha do antigo filme. Destaques para a divertidíssima cena em que a babá, Jack e as crianças visitam a prima de segundo grau de Mary (ou alguma coisa assim, como é dito no filme), Topsy Poppins (Meryl Streep), que é embalada por “Turning Turtle” – canção igualmente divertida e cheia de trocadilhos e referências –, e para a deliciosa “Nowhere to Go But Up”, embalada pela doce voz de Angela Lansbury.

A interação entre atores e cenários e personagens animados ajuda a trazer o clima do primeiro filme para esta sequência.
“O RETORNO DE MARY POPPINS” é uma dose exagerada e maravilhosa de nostalgia para os fãs de longa data da babá. Das balas de canhão que estremecem as estruturas do poço de onde vem o nosso bom saudosismo, passando pelos pinguins dançarinos e a bolsa de carpete de fundo infinito, e chegando até a pipa e o guarda-chuva falante que sinalizam a chegada de Mary, a Melhor, este filme é, sem dúvidas, um dos melhores do ano e merece estar, por exemplo, na lista da American Film Institute (AFI) dos dez melhores de 2018. Já aos novos fãs, que têm seu primeiro contato com Mary agora, o filme também não tem em que decepcionar. É musical tradicional da melhor qualidade sem perder a atualidade de um discurso simples, direto e com tantas nuances a serem desvendadas a cada vez que for revisto conforme formos crescendo – assim como o filme de cinco décadas atrás. Pois sim, no fundo, todos somos as crianças dos Banks, assim como Jane e Michael, que precisam de uma babá como Mary Poppins.

O RETORNO DE MARY POPPINS estreou nos cinemas brasileiros no último dia 20 de dezembro.

*Texto por Bruno Carvalho

Título Original: Mary Poppins Returns
Direção: Rob Marshall
Canal/Produtora: Walt Disney Pictures, Lucamar Productions, Marc Platt Productions
Ano: 2018
Avaliação: ★★★★★

Trailer:


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1 Comentários

  1. Será que só eu não gostei desta nova versão de Mary Poppins?? A atriz Emily Blunt realmente tinha uma postura, elegância e dançava tão lindamente quanto a Julie Andrews, mas dizer que ela tinha o ar doce de Julie, isso não... Ela tinha mais um ar de "vilã" do que de "mocinha"... A Julie sim, conseguia ser durona e doce ao mesmo tempo... A Emily não, mesmo!!! Impossível não comparar as duas, até pq o filme chama-se o retorno de Mary Poppins... A mudança do cabelo, tb deixou Emily bem diferente daquele rosto angelical da Julie ... E a trilha sonora??? memorável??? Onde??? Cadê o supercalifragilisqueexpialidoce?? Cadê o "um pouco de açúcar no remédio é um prazer..."?? Cadê aquela arrumação do quarto mágica em que as crianças tb participavam da magia com o estalar dos dedos?? Nada disso teve... A Mary da nova versão fazia as mágicas sozinhas e as crianças ajudavam normalmente, sem mágica alguma.... Músicas bonitas, mas que não chegam aos pés do clássico de 1964.. nenhuma canção fixou em minha mente..nenhuma canção me fez lembrar da Mary Poppins.... A melhor parte para mim foi rever o velho Bert (Dick Van Dyke) atuando lindamente, com a mesma alegria e que nem parecia que está com 93 anos... Foi linda sua atuação e ver seus olhos marejados de emoção, não só pela cena, mas por reviver novamente este clássico...
    Mas não teve pontos positivos?? Sim...tiveram... Cenário, figurino, coreografias, animações...mas o enredo deixou a desejar... Os filhos do Michel além de muito bem educados pareciam mais responsáveis que o pai... achei isso ruim... Tudo bem que houve uma perda na família Banks, mas o Michel parecia mais um bocó no filme... Não achei isso legal... Tb não gostei da cena de perseguição na animação... A cena acaba com as crianças em desvantagem, acordando assustadas e sozinhas em seu quarto... No original, todas as cenas tanto de animação quanto a real não havia terror...mesmo quando as crianças fogem do Banco e se perdem pelo caminho, não há cenas de terror...Bert logo aparece, os acalenta e os leva para casa em segurança... Enfim... eu fiquei frustrada... Para mim este filme não serviu para relembrar o filme que animou minha infância... Em tudo que apareceu, em todas as cenas que eu via, só conseguia enxergar que o filme de Mary Poppins de 1964 foi e ainda é o melhor até hoje!! (Luciana Pazzi)

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