Atenção! Contêm spoilers de How I Met Your
Mother.
How
I Met Your Mother (HIMYM) é uma das séries mais polêmicas de todos os tempos.
Muito além do clássico embate “HIMYM vs. Friends”, existem as discussões entre
os próprios fãs da saga de Ted Mosby (Josh Radnor) atrás do amor da sua vida. E
provavelmente a discussão mais acalorada entre a fanbase da série é acerca do seu final. Apesar de alguns amarem a
conclusão – de certa forma – inesperada da sitcom,
muitos detestam e, na maioria das vezes, o motivo é Robin Scherbatsky (Cobie
Smulders).
A
série começa com o protagonista contando para seus dois filhos o início da
história de como conheceu a mãe deles (assim como o título sugere). Como dito, tudo
gira em torno da busca insaciável de Ted pela sua “The One” – como é referida a
mulher que seria sua “parceira ideal”. Ao longo das nove temporadas, o público acompanha,
junto dos filhos de Ted, cada momento que contribuiu para que os caminhos dele
e de Tracy McConnell (Cristin Milioti) – a mãe das crianças e, a princípio, a “The
One” de Ted – se cruzassem.
Desde
o início, junto do protagonista estão seus amigos inseparáveis: o bobo-pero-nem-tanto Marshall Eriksen (Jason
Segel), a manipuladora Lily Aldrin (Alyson Hannigan) e o machista Barney
Stinson (Neil Patrick Harris). O ponto de partida da saga de Ted atrás da realização
da sua idealização de amor perfeito é o encontro deles com Robin e a paixão à
primeira vista que o protagonista sente pela moça.
A
polêmica, enfim, acerca do final, se dá porque, no último episódio da nona temporada
é revelado que Tracy estava morta desde o começo. O motivo de Ted contar para
seus filhos cada mínimo detalhe sobre como conheceu sua falecida esposa é que
ele está em busca da aprovação deles para ir atrás, mais uma vez, de Robin,
porque ela sempre foi a tradução perfeita da idealização super-romântica e
utópica criada por ele (no sentido mais infantil possível). Ted nunca a
esqueceu, apenas viveu um período feliz com Tracy até que ela se foi e ele se
recordou da sua antiga paixão.
Talvez
não fosse tão polêmico se ele não tivesse, no decorrer de toda a série, tentado
recomeçar com Robin várias vezes e ela não tivesse deixado sempre claro suas
expectativas para a vida e suas prioridades. E isso é um fator primordial para compreender
a divisão entre os fãs porque, na visão dos muitos que detestam o fato de Ted
ter ido atrás de Robin com o consentimento de seus filhos, Robin o fez de
trouxa desde que os dois se conheceram.
Porém,
desde a precipitação de Ted em dizer que amava Robin no primeiro encontro dos dois
até o pacto que eles tinham de ficarem juntos caso estivessem solteiros quando
chegassem aos 40 anos, ela nunca o enganou. Aliás, muito pelo contrário, ela
sempre deixou claro que sua independência e carreira eram prioridades. Sempre demonstrou
suas inseguranças em assumir algum compromisso sério com alguém, até mesmo
quando estava prestes a se casar com Barney. Mas também nunca escondeu sua
força e sempre a usou quando necessário. E o principal: ela é uma das personagens
mais humanas de toda a série.
Aceitar
Robin, com sua força e independência, pode ser difícil para muitas pessoas que romantizam
as idealizações imaturas de Ted acerca do amor, passam pano para cada atitude
machista de Barney e têm dificuldade em encontrar defeitos no relacionamento de
Lily e Marshall. Essas pessoas que representam, infelizmente, grande parte da
sociedade, realmente acreditam que Ted criar expectativas além do normal para
sua futura companheira (ou seja, alguém que ele ainda nem havia conhecido) é
fofo; se emocionam com a exteriorização da parcela mínima de humanidade que
havia em Barney ao conhecer sua filha e esquecem que ele não passa, na verdade,
de um malandro (no pior sentido da palavra) que vê as mulheres e enxerga
objetos; e fantasiam viver um relacionamento à la Lily e Marshall (apesar de toda imaturidade).
Para
essas pessoas, é mais fácil passar a mão na cabeça de Ted cada vez que ele se
decepciona com alguma de suas namoradas do que assumir que ele sempre foi
trouxa, e não foi Robin quem o fez. Afinal de contas, ela não tem a obrigação de
ser a mulher dos sonhos de ninguém e muito menos pode ser culpada pelas
expectativas criadas por ele ao longo de toda sua vida sobre a tal “The One”.
Isso ainda mais se considerarmos que ele perdeu uma grande oportunidade de
aprender com ela a ser sincero e, assim, ter sido menos “Barney Stinson” com
cada mulher com quem se envolveu e depois pulou fora.
Filha
de um milionário canadense que desejava um filho e não uma filha, Robin foi
privada de afeto paterno e foi criada na base do terrorismo emocional. Com
isso, criou uma casca dura que pode ser confundida com frieza. Na adolescência,
se tornou cantora famosa no Canadá e precisou lidar com o ápice e o declínio da
fama – e todas as problemáticas decorrentes disso. Nos EUA, se tornou repórter
de uma emissora de TV de baixa audiência, mas persistiu em crescer na carreira
até que, perto do fim da série, viajou por vários lugares do mundo como
correspondente internacional. Um dos fatos mais tristes de sua vida é contado
por ela mesma no 12º episódio da sétima temporada, assumindo o lugar de Ted na
narração de um dos episódios mais sensíveis, quando é revelado que ela não pode
ter filhos. E, apesar de tudo isso, ela se torna uma mulher bem-sucedida e
emocionalmente estável que, apesar de não sabermos o que aconteceu depois de Ted
reencontrá-la no fim da série, provavelmente não teria ido atrás dele com a
mesma intenção, pois ela sozinha se basta, ao contrário dele.
Mônica se transforma em Capitã Marvel
Julgar Robin por não ter
ficado com Ted logo de cara, assim como Lily e Marshall o fizeram ainda na
faculdade, não é ser apenas condescendente com a falta de maturidade dele, é
também assumir que não está preparado para conviver com uma mulher forte,
real e que não precisa da aprovação de ninguém para ser quem é. O mundo está
cheio de Robins que, aceitas, valorizadas e compreendidas, ou não, seguirão crescendo
e sendo muito mais do que qualquer um que as julgue.
*Texto
por Bruno Carvalho
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