Atenção! Contêm spoilers de As Patricinhas de Beverly Hills
(1995).
Diferentemente
das duas personagens mencionadas anteriormente (Robin Scherbatsky, de How I Met
Your Mother, e Rose Bukater, de Titanic), a injustiça sofrida por Cher Horowitz
(Alicia Silverstone) se fundamenta no mais puro preconceito.
Aparentemente,
Cher representa todos os estereótipos da típica menina loira, rica e fissurada
em moda de Beverly Hills, porém, graças à Cher (a Deusa do Pop), ela não é
apenas mais um rostinho bonito para pseudointelectuais tirarem barato (e se
fosse só um rostinho bonito também não teria problema algum, vale ressaltar). Ela
é inteligente, gentil e muito carismática. E só quem se propõe a enxergar a
personagem sob outra ótica que não a dos clichês e ideias preestabelecidas
sobre o arquétipo das patricinhas é que vê o quão subestimada ela é.
Entre
as já citadas e outras tantas qualidades da protagonista, está também a
predisposição em ajudar os outros. No filme, a patricinha é acompanhada de sua
melhor amiga Dionne Davenport (Stacey Dash), tão gentil quanto Cher. Lá pelas
tantas, as garotas com nomes de divas do pop encontram Tai Frasier (Brittany
Murphy), uma mortal desengonçada e deslocada que é gente como a gente, e a “adotam”.
As duas encontram um gracioso cisne dentro de Tai e, pode-se dizer, lapidam o
diamante bruto que antes era a garota.
Mas
Cher não ajuda apenas seus amigos. Com um faro inigualável para identificar
problemas que, muitas vezes, nem mesmo as pessoas que os têm são capazes de
identificar, a moça, por exemplo, é responsável por juntar sua professora, Srta.
Geist (Twink Caplan), e seu professor, Sr. Hall (Wallace Shawn), transformando os
dois, antes infelizes, num casal feliz.
Por
outro lado, tanto altruísmo a faz colocar sua própria vida de lado. Aqui,
diferentemente de outros filmes sobre patricinhas – como o posterior Meninas
Malvadas (2004), por exemplo –, a protagonista não está preocupada apenas em se
manter no topo da cadeia alimentar do high
school. Cher passa tempo demais tentando ajudar (nem sempre conseguindo, é
verdade) os outros à sua volta e acaba nem percebendo que o famigerado “amor da
sua vida” sempre esteve ao seu lado. Só perto do fim do filme é que a moça
acorda e percebe que seu ex-meio-irmão (só para não causar nenhum mal-entendido,
o rapaz é filho de uma mulher com quem o pai de Cher teve um caso), Josh (Paul
Rudd), é a sua grande paixão juvenil. E o fato de ela só ter percebido no final
do filme só deixa ainda mais evidente que ela passa tanto tempo tentando cuidar
dos outros (talvez num complexo de miss) que, quase sempre, esquece de si
própria.
Com
Cher, aprendemos algo que nem sempre é discutido, mas quase sempre é
ridicularizado: em tempos de discussões acerca de Barbies privilegiadas, um
filme cult dos anos 1990 pode servir de panfleto para muitas pessoas que não
reconhecem seus próprios privilégios e, muito menos, fazem algo pelos outros.
*Texto
por Bruno Carvalho
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