Atenção! Contêm spoilers de 13 Reasons Why.
Que
13 Reasons Why é um dos títulos mais famosos, controversos e polêmicos da
Netflix, ninguém discute. Agora, um fato que precisa ser debatido, além dos
temas propostos pela série, é que muita gente culpou e ainda culpa Hannah Baker
(Katherine Langford) por tudo o que a levou àquele fim trágico.
Deixando
de lado os vários problemas da série – especialmente os da segunda temporada –
e focando na mensagem que a priori
ela tenta passar, temos como personagem principal uma adolescente comum, Hannah,
com problemas – infeliz e igualmente – comuns, que acaba desenvolvendo
depressão. Logo no início, sabemos que a moça está morta e deixou 13 fitas
cassete gravadas por ela própria antes de morrer. Em cada uma das fitas a jovem
apresenta e justifica um motivo diferente para ter cometido suicídio, e cada
uma delas é destinada a alguém. Esses motivos vão da divulgação não autorizada de
um poema escrito por ela sobre seus problemas pessoais, até um estupro sofrido
pouco antes de dar fim à própria vida.
Todas
essas situações-problema vividos e narrados por Hannah aconteceram um em
decorrência do outro e, claramente, a deixaram acuada e sem saber o que fazer para
sair ilesa de tudo o que estava vivendo. Mas, assim como em muitos casos reais,
cada vez mais conhecidos pela sociedade, apesar de todo abuso físico, emocional
e psicológico sofrido pela moça, muitos espectadores ainda julgam e tentam colocar
em Hannah toda responsabilidade por seu ato desesperado.
Podemos
sempre considerar a arte em si como reflexo da (ou reflexão sobre a) realidade,
e aqui não é diferente. Mas, por outro lado, proponho considerar a resposta desses
muitos que culpabilizam a vítima (na série, fictícia) como uma evidência clara
que demonstra o quão urgente e necessário é o discurso em prol das minorias
que, historicamente não são ouvidas. Pois, se fazem isso com alguém que sequer
existe (ao menos não literalmente), imagine (ou abra as janelas físicas e veja
por si só) o que fazem com centenas de vítimas de todas as formas de abuso
possíveis todos os dias desde que alguém denunciou um ato do tipo pela primeira
vez – especialmente quando a vítima é mulher.
É
clichê, mas existem sim milhares de Hannahs Bakers espalhadas pelo mundo. E da
mesma forma também existem, para cada caso inédito de uma nova “Hannah Baker”
tornado público, o dobro, o triplo de pessoas que culpabilizam a vítima.
Assim
como no caso da série, sempre existe alguém para, por exemplo, dizer que se
você sai com alguém e esse alguém tira uma foto sua num momento íntimo e espalha
para todos os seus conhecidos depois, a culpa é sua, pois deveria ter mais
cuidado. Essas pessoas, que também são tradução de quem somos enquanto
sociedade, não se importam com a dor e o sofrimento do próximo, e muito menos
em ouvi-lo. E este talvez seja o maior de todos os nossos problemas atualmente:
a falta de empatia.
Por
isso, seja lá quais forem os problemas que a maioria parece ter com relação a
13 Reasons Why, é preciso atenção para como o público tem recebido
obras do tipo. Uma coisa é se indignar com a forma com que a mensagem é passada,
ou mesmo com a estética da obra, outra, como dizem, é tentar encontrar pelo em
ovo.
*Texto
por Bruno Carvalho
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