Hoje
venho trazer para vocês mais um lançamento do mercado literário: A Saga de um
Andarilho pelas Estrelas, do Jean Pires de Azevedo Gonçalves (Editora Dimensões
Ficção/Multifoco). Recebi uma sinopse do livro no e-mail do blog (blogmodernagem@gmail.com) e resolvi
compartilhar com vocês. Confiram!
Sobre o autor
Jean Pires de Azevedo Gonçalves, 38 anos, é Licenciado em Geografia e atua como músico, compositor e escritor. Sua experiência com a literatura iniciou-se tardiamente, com a publicação online do texto “A greve dos planetas”.
Sobre o livro
Uma utopia pós-moderna, A saga de um
andarilho pelas estrelas conta a história de um homem que abandona a Terra e
viaja pelas estrelas, onde conhece civilizações extraordinárias. Mas o universo
guarda infinitas surpresas e alguns planetas podem ser muito perigosos. O
enredo é repleto de momentos cômicos e desconcertantes que acabam por inspirar
reflexões sobre a vida e a existência. O livro é escrito em prosa em dez
capítulos. Oito sonetos também acompanham a narrativa.
Sinopse
Parte 1
Num amplo salão azul, de uma única
porta cor de abóbora e nenhuma janela, muitos jornalistas se amontoavam.
- Por favor, conte-nos como foi sua
viagem ao espaço?
- Diga-nos como ficou tanto tempo sem
comida e água?
- Disseram que você não se alimenta. É
verdade?
- E o relógio? Por que você não se
separa de um relógio?
- Como foi viajar pelas estrelas?
- Me desculpem, mas eu preciso fazer
um apelo à humanidade.
- Apelo? Depois o senhor faz. Responda
primeiro às nossas perguntas.
- Eu preciso contar a todos o que eu
vi. É muito importante.
- Haverá muito tempo para isso. As
autoridades estão preparando para amanhã a ocasião para que você dê uma
declaração pública, que será em praça pública e transmitida para todo o mundo.
Mas antes nos responda!
- As autoridades, sempre as
autoridades! Por que não me deixam falar logo de uma vez! Começo a duvidar de
que as autoridades estejam sendo sinceras.
- Você acabou de sair da quarentena.
Depois dessa entrevista, você terá sua chance de falar o que você bem entender
para a humanidade. Por isso, conte-nos agora como foi sua viagem pelo espaço.
Além do mais, tudo o que você disser será publicado e televisionado!
- Você disse tudo o que eu falar será
publicado e televisionado?
- Sim. E ao vivo!
- Bom, então eu respondo. O que vocês
querem saber?
- Tudo. Tim-tim por Tim-Tim.
- Então, sou todo ouvidos.
- Desde que voltou ao planeta Terra,
você se tornou muito famoso. O que você acha das pessoas que se manifestaram
por sua liberdade.
- Eu queria agradecê-las.
- Sim, você é muito popular, pensa em
se candidatar a algum cargo político?
- Não, de modo algum!
- Desculpa-me, mas farei uma pergunta
um pouco indelicada. Você é mesmo um ser humano?
- Em partes. Depende do que você entende
por ser humano. O que é um ser humano?
- Como assim, o que é um ser humano?
Um ser humano é um ser... é um ser... é um ser humano! Sei lá, um indivíduo
pertencente à nossa espécie... Na verdade, gostaria de saber se você é daqui ou
se é um alienígena, essas coisas... Você é da Terra, um terráqueo como nós?
- Tudo indica que sim, até que me
provem o contrário. Sou um terráqueo, porque nasci na Terra.
- Qual é o seu nome?
- Por favor, sou apenas o Andarilho
das Estrelas.
- Andarilhos das Estrelas?!
- Sim. Sou um andarilho, das estrelas.
- Você não tem nome? (Todos riem).
- Não importa, sou o Andarilho das
Estrelas apenas. E isso é tudo o que vocês devem
saber sobre mim. O Universo é maior.
- Disso ninguém tem dúvidas. (Risos).
Como é então lá em cima, no Universo?
- Lá em cima? O entrevistado fez um
gesto de incompreensão, e depois acrescentou: O senhor já viu estas fotos
coloridas de nebulosas, galáxias, supernovas etc., tiradas por telescópios
espaciais?
- Sim.
- Eu diria que é muito mais
maravilhoso.
- É mesmo? E o que você viu de tão
maravilhoso, exatamente?
- É difícil dizer o que é mais
maravilhoso. Tudo é muito bonito. Para não deixar você sem resposta, eu diria
que as imensas cataratas de estrelas cadentes são lindas demais. No entanto,
como não mencionar a música que toca entre as estrelas ou os versos do
multiverso?... Na verdade, é difícil escolher o mais maravilhoso. Lamento, sua
pergunta não pode ser respondida.
- Ainda não entendo qual o problema de
falar seu nome? Afinal, todos nós queremos chamar você por seu nome!
- Que importa um nome? Eu continuaria
o mesmo independente do nome que tenho.
Além disso, a minha vida aqui na
Terra, como a da maioria das pessoas, sempre foi tão vulgar e encoberta pelo
anonimato das multidões, que meu nome é também indiferente. A diferença é que
um dia eu deixei nossa querida Terra para viajar pelo espaço sideral. Então eu
me tornei um andarilho, errando pelas estrelas do Universo. Vejam bem, por que
vocês jornalistas, ciosos que são, estão me entrevistando? Qual o interesse das
emissoras de televisão, que pagam os seus salários, senão fatos? Não é sobre
mim que vocês querem saber. É sobre o Universo. Sinceramente, a vida banal de
um cidadão comum não vende jornais.
- Antes dessa sua viagem espacial,
você já havia viajado muito por outros lugares do mundo?
- Não. Nunca saí de minha cidade.
Todos os jornalistas, que eram
centenas, se admiraram com essa resposta.
- Nunca saiu de sua cidade?
- Nunca.
- E por que saiu do planeta?
Essa pergunta provocou risos também.
- Porque eu quis abstrair de mim a
minha humanidade, ou melhor, quis me tornar abstrato.
A resposta do Andarilho das Estrelas
provocou uma reação de surpresa e incompreensão.
- Me perdoa, mas não entendi o que
você quis dizer. Como assim, se tornar abstrato? Isso não faz sentido. Em
primeiro lugar, o que você entende por “abstrato”?
- Ora, o sentido que se dá a palavra
abstração, isto é, um elemento reduzido, separado, e que é generalizado.
- O quê? Por favor, explique melhor,
está muito confuso.
- Significa abstrair de uma
abstração...
O embaraço aumentava conforme o
Andarilho das Estrelas respondia as questões dos jornalistas ávidos por
notícias e não por respostas demasiadamente vagas. Afinal, quem é este
Andarilho das Estrelas? Ele esteve onde nunca nenhum outro ser humano sonhou um
dia chegar e ainda assim não sabemos nada sobre ele, nem o seu nome. Depois
justifica uma viagem sem precedentes históricos e de proporção interplanetária
com uma explicação, no mínimo, sem sentido!
Analisemos mais detidamente a
fisionomia desse estranho personagem para ver se descobrimos algum traço
notável de sua personalidade. Aparentemente, nada indica algo incomum nele.
Porém, se prestarmos bastante atenção em seu olhar... No seu olhar pode se
observar alguma coisa do Universo, um pouco do brilho das estrelas, uma
substância, talvez, de origem melancólica, o próprio éter, cuja essência
infinita é o imponderável.
De fato, nenhum dos jornalistas
duvidava de sua jornada no espaço; sobretudo, quando os telescópios detectaram
sua presença no limiar do sistema solar em rota direta de colisão com a Terra.
Notícia alarmante, que provocou verdadeiro pavor, porque o Andarilho das
Estrelas foi inicialmente confundido com um asteroide.
Quando, entretanto, os astrônomos
declararam que o corpo celeste detectado não era senão um corpo humano, o mundo
então respirou aliviado. Na ocasião, inclusive, um cientista saiu de um
observatório dançando e pulando tão enlouquecido, que acabou por cair em um
bueiro de esgoto que alguém imprudentemente esqueceu aberto. Para sua
felicidade, os ferimentos foram leves. Mas passado o susto inicial da confusão
com um asteroide, o mundo inteiro se perguntava intrigado como podia um ser
humano estar nos limites do sistema solar. As hipóteses se multiplicavam.
Alguns questionavam, não sem fundamentos, se o Andarilho das Estrelas não seria
antes um extraterrestre. Alarmados, outros anunciaram uma invasão alienígena
iminente. E os adeptos das teorias da conspiração afirmavam que o caso expunha
provas concretas de um experimento científico realizado com cobaias humanas
lançadas ao espaço e desenvolvido por organizações que almejavam dominar o
mundo. Logo, sabichões de todos os cantos do planeta se reuniram
emergencialmente num congresso internacional onde passaram a discutir e
analisar as evidências por dias a fio. Por fim, vieram a publico apresentar
suas conclusões. Declaravam que, em primeiro lugar, “o objeto espacial que se
localiza nos confins do sistema solar é realmente um ser humano do gênero e da
espécie homo sapiens sapiens” e, em segundo lugar, “que ignoravam
completamente como um indivíduo da referida espécie havia parado num ambiente
inapropriado à vida humana”.
Ao se aproximar o Andarilho das
Estrelas da estratosfera terrestre, o resgate não podia causar mais comoção.
Maravilhado, o mundo inteiro parou para assisti-lo entrar na Terra como uma
estrela cadente, riscando o céu de ponta a ponta num rastro luminoso para, em
seguida, descer suavemente no mar. A operação de busca, que se procedeu, assemelhou-se
a uma verdadeira mobilização de guerra. Nunca se viu tantos helicópteros,
jatos, tanques, navios porta-aviões e tantas outras geringonças juntas rumando
para um só lugar. As emissoras de televisão suspenderam toda a programação
diária para noticiar integralmente o acontecimento extraordinário. Nos
telejornais, os repórteres relatavam o sucedido: “Nesta manhã, o homem que
estava no espaço aterrissou sem maiores transtornos no meio do oceano Pacífico
e foi resgatado para a terra em segurança”. Outros reportavam a seu estado de
saúde: “O homem do espaço passa bem, apesar de visivelmente abatido”. E alguns
descreviam sua aparência: “Ele tem barbas longas, cabelos compridos e
desgrenhados, roupas puídas e rasgadas... mais parece um náufrago, um náufrago
das estrelas”. Notícias como essas se intercalavam ao longo das horas,
ininterruptamente, e, no dia seguinte, a humanidade ainda estava de ressaca
pelos acontecimentos da véspera. Finalmente, a fisionomia do Andarilho das
Estrelas, com expressão assustada e olhos esbugalhados, estampou, numa foto
memorável, a primeira página dos grandes jornais do mundo inteiro.
Neste ínterim, uma agência secreta de
algum governo deteve o Andarilho das Estrelas e o transportou para uma dessas
bases ainda mais secretas, onde o submeteram a intenso interrogatório. De
acordo com informações extraoficiais, o viajante espacial portava consigo
apenas uma bagagem de mão, com alguns pertences pessoais, como um livro, um
caderno, um espelho, uma lanterna, uma caneta e uma bituca de cigarro, além de
uma estranha máquina portátil, construída com uma tecnologia desconhecida, e
que foram expostos a testes de radiação. Depois disso, durante dias não se teve
notícias dele. E as pessoas movidas, talvez, pela curiosidade, passaram a se interrogar
por que o prenderam e não o soltavam. Nas ruas, na linha de produção, nos
escritórios, nas escolas, nos botecos, nos restaurantes, nas casernas, enfim,
na sala de jantar, todos queriam saber do paradeiro daquele que ocupou por um
curto lapso de tempo a atenção do planeta. Mesmo diante de tanta repercussão, a
tal agência secreta mostrava-se irredutível à opinião pública e sonegava a
menor informação.
[...]
Fato que foi amplamente desmentido
pelas mesmas autoridades! Para complicar ainda mais a situação já complicada,
um dos jornalistas ouviu, segundo ele próprio, de uma de suas fontes, um
funcionário do governo, que o Andarilho das Estrelas não era humano. Informação
que surtiu o efeito de um verdadeiro estouro de boiada, tumultuando ainda mais
as condições em si caóticas. Lá dentro, todos falavam ao mesmo tempo, e foi
muito difícil estabelecer o silêncio no local. Jornalistas foram retirados à
força por apresentarem conduta inadequada, de acordo com nota divulgada pela
organização da coletiva de imprensa. Outros caíram e foram pisoteados. Alguém
desacatou alguma autoridade e foi preso. Quando, na medida do possível, a
confusão foi finalmente contida, o Andarilho das Estrelas foi conduzido até o
centro de uma mesa coberta por microfones. Quase não se via seu rosto, a essa
altura barbeado e com os cabelos raspados, atrás de uma pilha de microfones
amontoados. Ao seu lado, sentaram-se os famigerados agentes secretos, todos
vestidos de modo idêntico, com terno preto, gravata preta e óculos escuros.
Enfim, deram início à entrevista. As primeiras palavras do viajante espacial
foram impactantes. Disse ele calmamente: “Bom dia a todos. Eu viajei por todos
os rincões deste Universo; travei contato com seres obscuros, muito embora
conheci civilizações que fazem da humanidade parecer um formigueiro de formigas
desmioladas!”
Foi uma algazarra total, os repórteres
gritavam: “Conte-nos sobre eles!”; “Eu quero saber!”; “Como eles eram?”, “Se
parecem conosco?” etc., etc., etc.
[...]
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