O Tempo é uma senhora exigente. Cheia de manhas, regras e costumes.
Ela
é daquelas mulheres da velha guarda que tem hora para acordar, tomar café,
almoçar, servir o chá e jantar antes das seis.
Ela
acorda de madrugada para orar pela família e nunca perde um compromisso, porque
“faltar a compromisso é ausência de
caráter”.
Ela
é aquela mãe que deseja que a filha se case bem e “dê tempo ao tempo”, pois o
rapaz certo vai aparecer na hora exata.
Ela
é aquela avó que ordena que os netos sentem direito e digam boa tarde, por
favor e obrigada, porque eles crescem com cada nova lição.
Ela
é aquela tia que leva doces para os sobrinhos, mas diz para esperar pelo almoço
e que “comer antes da hora vai dar dor de
barriga”.
Ela
é aquela esposa presente, que cobra e aceita ser cobrada, que deixa as coisas
passarem, mas sabe o momento certo de lembrar do dia, da hora e do lugar.
O Tempo... ah o Tempo...
Ela
era uma moça jovem e bonita que cresceu no interior. Que sorria para as
vizinhas e cozinhava para a mãe. Estava em todas as missas e não esquecia de se
confessar com o padre.
Ela
foi referencia para a cidade, sabia? Foi a primeira jovem a concluir a
faculdade e conseguir um bom emprego, pois “para
quem luta a recompensa vem no tempo determinado”, dizia ela.
Tinha
amigas, não muitas. A vaidade não era inimiga, mas você nunca as veria de mãos
dadas.
Ela
preferia a receptividade, a paciência e a felicidade, esta última fazia os dias
se prolongarem até depois do pôr do sol.
Eu a
encontrei em uma palestra da faculdade uma vez. Eu era o aluno ansioso pelo
conhecimento e ela a professora que sabia criar a curiosidade.
Foi
referência no estudo da virtude humana, pois só ela compreendia como é preciso
viver um dia de cada vez e não menosprezar o medo, a tristeza e a solidão, pois
eles nos fazem ser quem somos.
Há
alguns anos ganhou um prêmio, mas preferiu no comparecer na cerimônia. Estava
se sentindo velha para isso.
Está
prefere ficar em casa com os bordados, música de vitrola e sua tartaruga de
estimação.
Quando
perguntam o porquê da tartaruga, ao invés de um gato ou um cachorro, ela gosta
de rir e responder “Ninguém vence a
sabedoria da tartaruga. Mesmo que demore mais tempo para chegar ao seu destino,
ela aproveita a viagem”.
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