Atenção! Contêm spoilers de (500) Dias com Ela.
A
personagem de hoje sofre, infelizmente, da mesma forma de injustiça que Robin
Scherbatsky (How I Met Your Mother). E é infelizmente porque a forma de
injustiça sofrida pelas duas é uma das mais surreais de todas, pois ambas se
relacionaram com um homem, ambas terminaram seus respectivos relacionamentos
com esses homens e ambas são odiadas por muita (muita mesmo) gente por terem
partido os pobres corações de seus ex-namorados.
Summer Finn (Zooey Deschanel) e Tom Hansen
(Joseph Gordon-Levitt) trabalham numa empresa de cartões comemorativos em Los
Angeles. Tom, claro, se sente atraído por Summer, e logo os dois acabam se aproximando.
Assim como a já mencionada Robin (HIMYM), Summer deixa claro desde o início dessa
aproximação suas expectativas, crenças e vontades, o que, já adianto, a isenta
de todas as clássicas acusações. Dentre os esclarecimentos prestados, a moça
não acredita no amor verdadeiro e não quer um namorado (o que qualquer um com bom
senso entende perfeitamente como: “só quero ser livre”).
Apesar disso, quando tudo desanda e o mínimo interesse
que Summer tinha por Tom desaparece, o rapaz fica mal e as pessoas determinam,
erroneamente, que Summer é uma vadia e Tom, um coitado.
A reflexão a se fazer, portanto, é: até quando parte
da sociedade culpará as mulheres – neste caso, determinadas e convictas de suas
vontades, mas que não precisam ser, é claro – por causa da imaturidade sentimental
dos homens? Ora, se Summer sempre foi transparente durante os momentos que
viveu com Tom, em que ela errou? Não é mais condizente dizer que Tom foi
infantil ao criar expectativas irreais mesmo convivendo com a realidade de uma
situação totalmente diferente de suas idealizações desde que Summer se abriu
pela primeira vez?
Para piorar, além da situação criada por parte
da audiência do filme, há também a confusão igualmente infantil que a parcela
do público que insiste em maldizer Summer faz com a intérprete da personagem:
Zooey Deschanel. Ao que parece, existe uma fusão entre a personagem e a atriz
na mente dessas pessoas que aparentam não entender como a atuação funciona. É
fácil encontrar na internet discursos que assimilam e encontram as mais
absurdas “semelhanças” entre as personalidades das duas apenas numa tentativa ridícula
de fundamentar um discurso misógino que atinge, inclusive, personagens
fictícias.
Para começar, já é difícil falar sobre a personalidade
de alguém que só mantemos contato indireto por meio de uma tela (até mesmo a
celebridade mais controversa e polêmica não pode ter a personalidade julgada se
quem julga é alguém que não mantém o mínimo de intimidade necessária com o réu para
tanto). Depois, comprar suposições do tipo “ela é sem sal” (como falam por aí
sobre Zooey) com leituras feitas sobre uma personagem interpretada por ela é
ser, no mínimo, sem-noção.
Mas, voltando à Summer, a questão é que pode-se
dizer muitas coisas sobre ela, até mesmo que ela pode não ser tão polida quanto
pessoas muito mimadas gostariam que ela e todo o resto do mundo fossem (mas,
até aí, há pessoas de todos os tipos, sexos e amores que não são exatamente um
diamante lapidado). Agora, encontrar vilania em sua sinceridade apenas para dar
biscoitos a Tom é uma forma de opressão sim!
*Texto por Bruno Carvalho
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