Contém spoilers da segunda temporada de The Umbrella Academy!
A segunda temporada de The Umbrella Academy estreou no final de julho, a séria que ficou em segundo lugar no ranking das mais assistidas da Netflix em 2019, chegou mostrando que pretende manter seu lugar no pódio e até mesmo ir além.
Inspirada nas HQ criada por Gerard Way e o quadrinista
brasileiro Gabriel Bá, a série produzida por Steve Blackman, Mike Richardson, Keith
Goldberg e pelo próprio criador Way, tem como propósito contar a história dos superdotados
irmãos Hargreeves.
Sete crianças são adotadas pelo excêntrico Sir Reginald Hargreeves em 1989 e são criadas com o
propósito de defenderem o mundo, desta forma, começam cedo com os treinamentos
de combate e missões contra criminosos. A infância deles não foi um mar de
rosas, nomeados por números, os sete possuem uma criação quase militar, onde seus
poderes são explorados e evidenciados, causando desgaste e competitividade entre
eles.
A família completamente disfuncional acaba se desfazendo e
se separando devido a pressão imposta por Reginald. Com traumas e danos irreparáveis
os sete se reúnem novamente após a morte do pai. A volta a conivência se torna
um desafio, já que antes de salvar o mundo de um apocalipse, eles precisam entrar
em comum acordo.
Durante a primeira temporada o atrito entre os irmãos é
forte, a convivência é quase impossível, eles foram classificados por dons, causando
acima de tudo uma guerra de egos e de autoafirmação. A temporada permite uma
imersão individual de cada personagem, mostrando as principais consequências causada
pela criação incomum em suas vidas.
Se aproveitando do gancho deixado no final da primeira
temporada, a segunda se inicia mostrando detalhes da viagem no tempo induzida pelos
irmãos afim de salvar o mundo do apocalipse criado por Vanya.
A segunda temporada possui uma construção impecável. Com os
sete personagens principais perdidos na década de 60, a série consegue ser fiel
ao retratar a época e mantém a sua forma coesa de contar as sete histórias de
forma harmônica e bem amarrada.
No entanto, não é apenas a produção que amadureceu, os sete
irmãos passam por uma evolução visível em seus comportamentos, conseguem enfim
superar muitas das suas diferenças e reaprendem a conviverem como um grupo.
Nº 1 – Luther (Tom Hopper)
Luther, intitulado como número 1, criado para ser o líder,
cai em 1962, após a viagem no tempo provocada em 2019. No decorrer da série ele
conta que procurou pelos irmos por dias, mas não conseguiu encontrar nenhum.
Após se convencer que o plano deu errado e que ele estava preso ali, Luther se
torna o cão de guarda de Jack Ruby, sim é exatamente o dono da famosa boate em
Dallas e assassino do Lee Harvey Oswald, que foi o responsável pela assassinato do presidente John F. Kennedy.
Spaceboy, como também é conhecido, começa a participar de
lutas ilegais, fazendo com que seu “patrão” fature um bom dinheiro, já que devido
a sua super força, o rapaz nunca perde.
Bastou um ano para que ele se transformasse, Luther ainda remoí
sobre as escolhas que tomou com Vanya no passado e que foram vitais para que a
garota causasse o apocalipse. No entanto, ele começa a romper com aquele julgo
imposto pelo pai de ter que ser o líder, de ter que pensar pelos irmãos, de ser
o primeiro a tomar decisões e o que tem a última palavra. Me arrisco a dizer,
parece até que ele está mais relaxado, mesmo com os problemas que ele tem que
enfrentar.
Ele é um dos primeiros que Five vai atrás, exatamente porque
todos sabem que Luther largaria qualquer coisa para salvar o mundo e sua
família, mas essa versão do número um está cansada de se anular pelo bem maior.
É interessante que por causa desse novo comportamento é possível ver uma
interatividade maior dele com o Diego, quando um dos lados está disposto a
ceder, parece que a competitividade que foi marco da primeira temporada se
enfraquece. O que é ótimo, pois é um dos pontos que contribui para que a convivência
entre eles comece a ser um pouco funcional.
Claramente desde a primeira temporada, se torna evidente características
em Five que o tornam um líder nato, faz com que os telespectadores questionem
as escolhas de Reginald, já que a “prisão” de Luther é a sua luta incessante em
mostrar que merece o título. Quando ele passa um tempo longe da família e fora
da pressão imposta pelo pai, fica até fácil pra ele se ajustar sem ter sempre que
se impor.
Obviamente Luther está longe de ser “simples”, por isso
outros diversos descontentamentos dele ainda são evidentes, como a aparência, o
relacionamento conturbado com o pai e o eterno “chove e não molha” com Allison.
Mas o fato dele começar a se descobrir e conseguir colocar seu relacionamento
com Vanya nos trilhos novamente, o faz até se parecer com o menos problemático.
Nº 2 – Diego (David Castañeda)
O manipulador de facas e talvez o melhor lutador dos sete,
Diego ou número 2, foi enviado diretamente para 1963, o ano em que ocorreu o
apocalipse dessa temporada. Por continuar nutrindo sua necessidade de ser o herói,
o líder, ele acaba indo parar em um manicômio por tentar evitar o assassinato
de John F. Kennedy.
Podemos dizer que Diego é um dos que menos evoluiu no
quesito comportamental, comparado a primeira temporada. O personagem tem uma relevância
maior desta vez, isso é inegável, já que ele está diretamente ligado a Lila a
nova interrogação da história e está irredutível sobre a participação do pai no
assassinato do Presidente Kennedy.
Diego preserva os traços sentimentais, de apego, ainda mais endossados
por conta do romance vivido com Lila, mas ele consegue provar que tem seu
valor, que é extremamente importante, por mais que a sua busca incessante por provar
que ele merecia ser o número 1 o deixe completamente cego, mas ele ainda
consegue ser útil quando coloca a cabeça no lugar e dá o braço a torcer.
No último confronto da temporada, Diego que tinha seus
poderes descritos como “consegue manipular objetos que lança”, demonstra um “q”
a mais na dimensão dos seus dons, já que ele consegue segurar diversas balas,
que não foram lançadas por ele, para dar cobertura para Five. Será que os
poderes de manipulação de objetos dele vai muito mais além?
Nº3 – Allison
(Emmy Raver-Lampman)
Junta tudo o que te fez construir a imagem da Allison na
primeira temporada e esquece. Essa segunda temporada mostrou uma Allison completamente
altruísta, o que era completamente impensável durante a primeira temporada, já
que a personagem usava dos seu dom para conquistar o poder e a fama.
Caída em 1961, época em que o Estados Unidos tinha uma divisão
racial ferrenha, subjugava e destratava pessoas negras, já na primeira cena ela
vivencia o racismo da época, quando é barrada em um restaurante que só atende
brancos. A personagem ganha um papel importante, quando dá voz a causas sócias.
Ela embarca na militância, onde reivindica os direitos civis para a população
negra ao lado do atual marido, Raymond Chestnut.
Essa temporada parece dar o relacionamento entre Luther e
Allison quase que por encerrado, já que ambos parecem demonstrar uma aceitação
de que não vai acontecer. Por mais que Luther sofra mais do que ela, já que ele
fica na foça após descobrir o casamento da “irmã”, Allison parece apenas
preservar o grande carinho que tem por ele e segue em frente de forma mais
fácil.
A grande mudança da personagem é a forma como ela escolhe
viver nessa época, renunciando à utilização do seu dom e reconhecendo a sua
capacidade e força para conquistar seus objetivos sem ter que manipular ninguém.
Por ter vivido mais tempo no passado do que a maioria dos irmãos, ela utilizou
do seu tempo para se transformas completamente e aparentemente até perdoar
Vanya e a família por tudo. Já que ela não demonstra nenhum ressentimento durante
essa temporada.
Nº4 – Klaus (Robert Sheehan)
Klaus teve uma relevância incrível nessa temporada por ter
seu relacionamento com Ben explorado. Caído em 1960 o número quatro foi o que
mais viveu no passado, já que precisou de 3 anos para chegar até o ponto de
encontro com os irmãos. No entanto, fora alguns momentos que ele apresenta uma pequena
lucidez, devido a um consumo menor de bebidas alcoólicas, nada realmente mudou.
Com um dom que muitas vezes pode parecer um pesadelo o irmão
número quatro continua se colocando em uma posição inferior aos outros, por
mais que ele se utilize da fé de alguns seguidores e de como a criação do seu
culto o traz dinheiro e influência, ele ainda se mantém com medo.
O relacionamento dele com Ben é mostrado em detalhes fazendo
com que o telespectador entenda a luta incessante do número seis em tentar
salvar o irmão.
A complexidade da sua depressão e vícios faz com que se
torne difícil para ele romper o ciclo, quando tudo parece que está indo bem, a
volta do seu antigo amor e a luta incessante para mantê-lo vivo o leva para o fundo
do poço novamente. Ben até mesmo o questiona, perguntando de quantos mais “fundos
do poço” ele vai precisar para entender que está vivo e que tem uma vida.
Talvez a partida de Ben mude completamente o personagem, obviamente
Klaus possui características únicas e alguns problemas em sua saúde mental que
não irão se resolver caso ele não tenha ajuda, mas definitivamente ele vai
sofrer uma mudança drástica na terceira temporada, que é quando realmente vamos
ver o quanto a perca do irmão o afetará.
Nº 5 – Five (Aidan Gallagher)
A cada episódio Five me convence ainda mais de que ele é o líder
e o cérebro da Umbrella Academy. É quase inquestionável, já que ele sempre está
fazendo tudo e se desdobrando para salvar o mundo e a sua família. Obviamente
ele erra, como todos os heróis disfuncionais dessa série, mas ele está sempre
ali procurando uma saída diferente e uma forma de dribla a comissão e o tempo.
Originalmente caído no dia 25 de novembro de 1963, o exato
dia do fim do mundo. Five vê o apocalipse acontecendo novamente. Levado por
Hazel para 10 dias antes do fim do mundo, ele novamente precisará reunir os
irmãos e descobrir uma forma de salvar a todos.
Por mais que o que tenha movido ele na temporada passada
tenha sido, também, a vontade de manter os irmãos a salvo, nessa temporada
parece que o coração dele se derreteu um pouco mais, diferente da outra vez que
tudo o que ele queria era parar o apocalipse e estava cem por cento focado em
desvendar a comissão, nessa temporada ele está mais aberto a convivência e aproximação
com seus irmãos.
Ele até faz concessões pela Vanya, mais de uma, ele desiste
de estar no lugar certo e na hora certa para que a irmã consiga chegar até Sissy
e Harlan.
Acredito que em sua busca incessante para reunir os irmãos,
em ambas as temporadas, Five se torna muito mais do que só um líder, ele é
basicamente a cola entre os irmãos já que ele possui uma influência e ele sabe
como chegar em cada um dos seis.
Nº 6 – Ben
(Justin H. Min)
Diferente da temporada passada, nessa conseguimos entender a
forma como Ben ainda se mantem ao lado dos irmãos. Mesmo que ele não interaja
com nenhum deles, fora o Klaus, Ben está lá em todas as missões, lutando ao
lado deles mesmo que eles não saibam.
Aparentemente, mesmo que não exista tanto material sobre ele
em seu estado vivo, já que morreu jovem, Ben parece ser o mais sensível de
todos e o mais dependente dos irmãos. Ele admite para Vanya que não seguiu seu
caminho de descanso após a morte por ter medo, podemos imaginar que o medo seja
do desconhecido, da vida sem os irmãos, já que eles eram quase que as únicas pessoas
que ele interagiu durante toda a sua vida.
Ben abre mão da sua permanência no mesmo plano dos irmãos
para salvar Vanya, nas visões dela nos últimos capítulos o rapaz é o único que
mostra um pouco mais de compaixão, já que ela havia sido criada longe deles e a
inibição dos seus poderes, provocada pelo pai, a diminuía perante os outros. As
poucas cenas do passado e a relação dele com Klaus mostram a natureza altruísta
de Ben, a forma como ele renuncia à sua existência para manter os irmãos vivos
e seguros.
Ben viveu até o último episódio da segunda temporada,
através de Klaus, dependia da permissão e escolhas de Klaus, os irmãos nem ao
menos sabiam de que ele estava lá. Mas na última cena do último capítulo, vimos
que os sete mexeram em alguma coisa no passado que alterou a linha do tempo.
Ainda não se sabe ao certo como se seguira essa história da Sparrow
Academy, se eles foram parar em uma nova linha do tempo ou se eles influenciam
nas escolhas de Reginald Hargreeves por terem tido
contato direto com o pai no passado.
A terceira HQ de Umbrella Academy conta uma história
diferente da que supostamente a nova temporada trilhará, no entanto de uma
coisa sabemos, Ben está vivo, ele é o número um da Sparrow e ele não se parece
com o rapaz doce que morreu anteriormente.
Em entrevista para o CinemaBlend, Justin H. Min falou sobre
o futuro de Ben na história "Ele não é um fantasma, posso dizer isso, ele
está vivo. Acho que uma das maiores coisas que desejamos fazer é criar o maior
contraste possível entre Ben-fantasma e Ben-Sparrow
Academy. Não apenas em termos de aparência, mas espero que ele seja bem
diferente, em termos de personalidade, em comparação ao Ben que conhecemos."
Steve Blackman, showrunner da série também falou sobre a nova
versão do personagem "Nós amamos Justin. Ele é um ator incrível. E ele
esteve com Klaus por tanto tempo, sem interagir com os outros, e nós queríamos
mantê-lo por perto e encontrar uma nova vida para Ben. Com um Ben do mundo real
e que iremos conhecer, caso tenha uma terceira temporada."
Nº 7 – Vanya (Ellen Page)
Vanya aparece sem memória no dia 12 de outubro de 1963,
quase dois meses antes do apocalipse visto por Five. Essa temporada foi uma
página em branco para a personagem e conseguimos entender que apenas assim ela
poderia superar todo o mal que sofreu no passado. Detentora de um dos dons mais
poderosos, ela foi oprimida e criada a parte e sem o companheirismo, mesmo que
desastroso, dos irmãos.
Eu conseguiria relevar muitas das escolhas do Reginald, mas
o que ele fez com essa garota é estratosférico, não consigo entender que lógica
que ele usou para achar que isso seria menos catastrófico do que a treinar para
controlar os seus poderes.
O relacionamento dela com Sissy e Harlan, acho que até por
vir antes do reencontro com os irmãos e a volta da sua memória, faz ela
experimentar uma vida “normal”, amor e acolhimento de uma forma que ela não
experimentou no passado. Acho que esse pequeno tempo de paz foi crucial para
que ela não voltasse a se ressentir com tudo o que foi forçada a viver.
A superação dela, a forma como ela volta a interagir com os
irmãos e como eles a aceitam, inclusive abrindo mão do que achavam certo para ajudá-la
a salvar Harlan, é o ponto ápice da séria. O mal que eles sofreram já foi
feito, imagine o quanto não ia ter que mexer no tempo pra desfazer tudo, não
tem como apagar das memórias, mas a forma como o relacionamento deles amadureceu,
vai muito além de só salvar o mundo. Dessa vez parece que eles conseguiram
salvar o próprio futuro, colocaram os pontos nos lugares certos e sabem que um depende
diretamente do outro.
Teoria pessoal sobre a Sparrow Academy:
Por mais que seja coerente, com base no comportamento da
série ate agora, acreditar que o surgimento da Sparrow tem a ver com existência
de mais de uma linha do tempo, ou algum erro no salto que eles deram. Eu gosto
de nutrir a ideia de que Reginald viu na década de 60 o mal que ele havia feito
para essas pessoa, se ressentiu e decidiu escolher outras crianças afim de
reparar os erros e evitar a morte de Ben e de quebra o apocalipse, já que Vanya
não carregaria as feridas abertas por ele.
Seja lá o que ele fez ou o que aconteceu, quando questionado
sobre “estar vivo”, quando os sete voltam para 2019, ele diz que esperava por esse encontro. Não importa o plano, acho que o relacionamento
dos irmãos está mais forte, dessa forma vai ser difícil conseguir virar um contra
o outro de uma forma permanente.
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